segunda-feira, 2 de setembro de 2013

"Aqui está, de modo totalmente provisório, um primeiro exemplo. Em todos os tempos se quis "melhorar" os homens: é isso que, antes de tudo, foi chamada moal. Mas sob esta mesma palavra " moral" se ocultam as tendências mais diversas. A domesticação do animal humano, bem como a crianção de uma espécie determinada de homens, são um "melhoramento": esses termos zoológicos exprimem unicamente realidades - mas essas são realidades de que o melhorador-tipo, o sacerdote, não sabe nada de fato - de que não quer nada saber... Chamar "melhoramento" a domesticação de um animal soa a nossos ouvidos quase como uma brincadeira. Quem sabe o que acontece nos estábulos, duvido muito que o animal seja neles "melhorado". É debilitado, é tornado menos perigoso, pelo sentimento depressivo do medo, pela dor e pelas feridas se faz dele um animal doente. - Não acontece outra coisa com o homem domesticado, que o sacerdote tornou "melhor". Nos primeiros tempos da Idade Média, quando a Igreja era acima de tudo um estábulo, em toda parte eram selecionados os belos exemplares do "animal "louro" - era "melhorado", por exemplo, os nobres germânicos. Mas qual era, depois disso, o aspecto de um desses germânicos tornado "melhor" e atirado num convento? Tinha a aparência de uma caricatura de homem, de um aborto: haviam feito dele um "pecador", estava enjaulado, havia sido encerrado no meio das ideias mais espantosas... Deitado, dente, miserável, aborrecia-se a si mesmo; estava cheio de ódio contra os instintos de vida, cheio de desconfiança em relação a tudo o que permanecia ainda forte e feliz. Numa palavra, era "cristão"... Para falar em termos fisiológicos: na luta com o animal, torná-lo doente é talvez o único meio de enfraquecê-lo. A Igreja compreendeu isso perfeitamente: ela perverteu o homem, tornou-o fraco - mas ela reivindicou o mérito de tê-lo tornado "melhor"."

Nietzsche

Como não amar esse homem? 

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