sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

É, na verdade, um medo inexplicável do futuro. Um medo, inclusive, irracional, de me encontrar daqui a cinquenta anos preocupado com a bolsa de valores, com as contas, com a vida em si, pura e simples, da forma mais difícil de se engolir assim como um bom litro de vodca, preocupado com o ato de me manter sobrevivente num mundo concreto e de concreto. Nos meus tempos de choro liberto, eu acreditava que ser adulto era não mais ter tempo pra sofrer. Agora, cultivando não tantas flores quanto olheiras e adquirindo aos poucos um vício por páginas de humor barato e novelas, eu vejo que o medo da solidão é o pior sofrimento que alguém pode amadurecer ao longo dos anos. As velas no bolo avisaram que a natureza quase indestrutível do homem é o fato, muito mais do que o ato, de se fazer constante em dor. Crescer é resolver as noites de insônia com um remédio pra dormir, ter a carência apagada com um sopro de trabalho, ir ao psiquiatra ou psicólogo falar mal dos seus amigos, colocar o presente de dia dos namorados nas contas do fim do mês. Crescer é tapar os buracos de uma estrada longa, cujo destino eu desconheço, mas sei que não me levará a lugar nenhum e que, provavelmente, eu já devo ter passado pelo fim sem perceber, porque tudo se resume à minha falta de tempo em perceber as coisas. Mas os buracos continuam lá, mesmo tapados. O meu medo é acordar daqui a poucos anos e não lembrar mais que estão tapados. O que é tão bonito e tão assustador em amadurecer não é começar a sofrer por coisas ditas reais e aceitáveis, e sim entender o amor (ou a falta dele) como uma coisa irreal e inaceitável e, mesmo assim, sofrer por ele. Me imaginar daqui a vinte e cinco anos sentado numa praça de alimentação sozinho, aproveitando o horário de almoço, enquanto deixo de existir lentamente, é quase um pesadelo. Hoje, sentar numa praça de alimentação sozinho, aproveitando o horário de almoço, enquanto deixo de existir lentamente, é quase um costume. Hoje, coincidentemente, já não sei mais pra que chorar. Daqui a vinte e cinco anos, vou sentar em frente à televisão e chorar por aquilo que não sei chorar agora. Vou sofrer escondido no meu apartamento de dois quartos, um banheiro e uma cozinha mal arrumada, vou sofrer escondido quando dormir do outro lado da minha cama de casal só pra deixá-lo quente também e vou sofrer escondido quando olhar os porta-retratos em cima da cômoda e não reconhecer o rosto de ninguém além do meu. Vou esquecer que meus buracos estão tapados cada vez que um colega de trabalho estapear as minhas costas e dizer que estou um pouco abatido, mas que amanhã é outro dia. O amanhã ainda existe e amanhã é sempre um atraso.

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