terça-feira, 7 de maio de 2013

É de um mundo que estamos falando. Nu, genuíno, com águas marítimas vindas do desconforto do sal, ou adocicadas como uma seiva sem turbulências em riachos e lagoas, pré-temperado, com picos e depressões verídicas, onde não inventaram a política, a racionalidade e a psicanálise. Um mundo que é a rocha comendo rocha, mas é rocha escondendo um núcleo quente, facilmente explosivo, corrosivo, destrutivo e inalcançável. Uma ameaça que só fere a crosta do seu pseudo-oxigênio. É um planeta de cantos e esconderijos, vulcânico, de beleza catastrófica, malquisto, mas que nos dá a honra de florescer, de abrigar a vida, de clarear a superfície, por mais íngreme que seja, com o amarelo solar. O que é atingido pelas sombras, não atrai a vida. Quanto mais profundas são as águas, quanto mais perfurado é o solo, menos sangue flutua no ar. Porém, dizem, que o inabitável é o esplendoroso. Quanto menos alterado e menos polido, mais puro e autêntico. Uma selvageria e barbárie de cores, sons, cheiros e relevos. São deformações da natureza que nos mantém em sã amizade com a poesia, porque se tudo fosse tocável e descoberto, nada nos machucaria, nada nos aqueceria. O homem descobriu a América, mas não descobriu quem ele é. Nada é plenamente habitável, nada é puramente amor, porque é de nós mesmos que estamos falando. Mundos inteiros procurando o infinito que não encontram no próprio universo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário