terça-feira, 7 de maio de 2013

Plantei uma semente de vazio dentro de mim e colhi solidão. Na terra infértil do meu sentimento, nasceu uma flor negra, feia, sangrenta… Nasceu morta, sugando minha vida pouco a pouco. Eu a cuidava, podava, cantava hinos de tristeza para que ela crescesse mais rápido. O adubo era minha infelicidade, a água eram as lágrimas avermelhadas que caiam, sujas de sangue. E o vermelho da minha dor a tingiu. Contrastou com o azul do meu céu de esperanças, ela era a mais bela flor vermelha do meu jardim escasso. Ela virou amor. Inatingível, com pétalas que chamavam o bem-me-quer. Tão vistosa que atraiu beija-flores, borboletas e abelhinhas barulhentas ao meu recinto. Enciumei-me e vesti-me de egoísmo. Ela era minha, eu tinha esse direito: Prisão. Era meu amor. O amor que eu tanto cuidei, que reguei com as minhas sofridas lágrimas vermelhas… Não era justo que alguém viesse e o tirasse de mim e dos meus cuidados. Desapareceram os intrusos, e minha flor virou solidão novamente. O veneno da clausura descascou a camada de tinta e ela voltou a refletir o breu da noite sem luar. Ela enganara-me… Nunca foi amor. Amor não descasca, não se acaba, não abaixa ou aumenta como maré. Eu também jamais fui jardineiro. Fui prisioneiro e carcereiro da minha própria carência negada. Libertei minha solidão depois que o erro já estava feito. O amor já morrera, afinal. Minha flor negra estava diferente… Agressiva. Criara finalmente seus próprios espinhos. E esses pontiagudos malditos rasgaram minha alma, me deformaram. Eu já não tinha forças para lutar contra o monstro que criei e alimentei. Deitado no solo podre, agonizava e implorava por um golpe de misericórdia. Um espinho direto no coração. O golpe final… Ela não o fez. Deixara-me ali, preso à minha insignificância, sozinho como sempre fui. Arrumei a bravura dos covardes e a matei. Suscetivos golpes de tesoura faziam minha flor gritar em silêncio enquanto morria mais uma vez. Último suspiro… Ela não era mais planta, ela era desespero e sofrimento. Acabou-se, o final completara seu destino. Mas no lugar de seu corpo frágil, ela me deixou frutos. Um embrião para que a vida continuasse a brotar dentro da minha alma agourenta. Plantei uma semente de solidão dentro de mim e colhi o túmulo do que já foi amor.

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