terça-feira, 7 de maio de 2013

Palavras de risco e brincadeira, palavras retiradas de uma citação barata, palavras tortas e rígidas como a Torre de Babel. Diz a lenda, a bonita lenda, que a torre não é reta para que o homem não chegasse ao reino dos céus. Diz a experiência, a vil experiência, que a poesia não é totalmente certa para que o homem não atinja o inferno da própria alma. Não há médium que interprete palavras mortas. Impostores existem, os mais sofridos, aqueles que lidam diretamente com pontos e vírgulas, estrofes e rimas. Os impostores que tentam, em vão, ressuscitar algo que não só morre no papel, mas morre dentro de si. Os piratas do amor, contrabandeando sentimentos que não valem um vintém. Palavras fora do contrato que não compram terras, mas que reluzem como ouro. Iluminam a noite de quem vê a riqueza do grafite envelhecido e a beleza do cinza. Palavras que que descem dos livros, dos livros de romance mais esdrúxulos, que não recebem críticas e elogios, mas que fazem o sono chegar isento de pesadelos. Romances entediantes vindos de um sebo qualquer. Nosso romance, nossas palavras. Minha, suas, daqueles que amam. Palavras românticas, sim, mas que se declaram para todo mundo. Uma orgia pura e celestial, palavras que se oferecem para homens e mulheres, que nos dão únicos prazeres. Únicos prazeres que o resto do mundo literário também sente. Palavras sem para-quedas que caem dos sonhos e viram gases poluentes que impedem os que leem de respirar o ar menos impuro, o ar da ignorância, o ar que menos explode os pulmões, visto que a sabedoria tem gosto de sufocamento. Ou desce como chuva, que turva os olhos molhados de lágrimas. Palavras brancas como enfermeiras que não curam ninguém. Palavras, encrenca surda. Palavras, grito mudo. Ódio, raiva, rancor, tristeza, palavras de qualquer outro lugar do mundo. Palavras difíceis aos cinco anos, palavras paralelepípedos. Mas as piores palavras do mundo aprenderemos com três e quatro letras. Dor e amor. A língua trava e o medo do erro nos retarda. Palavras também sentem falta dos paralelepípedos de antigamente. Palavra difícil é palavra que o coração não quer dizer. Palavras inquietas, irreais, irritantes, irrisórias. Palavras que nos arrastam para miragens distantes em outras histórias, outros mundos, outras vidas. Palavras parasitas, palavras sanguessugas, palavras carrapatos, palavras de poetas e trovadores, palavras de tristeza e melancolia.

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