terça-feira, 7 de maio de 2013

E ela foi minha primeira namorada, encerrando os meus pés descalços e bermuda desfiada na região dos joelhos vermelhos. Foi meu primeiro beijo, minha primeira memória. Foi o primeiro prato extra que saiu do armário no primeiro natal que tive que comprar presente pra alguém. Foi meu amadurecimento, minha fruta caída, minha primeira parada na vitrine da joalheria, imaginando aquele anel de ouro branco nos finos dedos que eu entrelacei os meus no meu primeiro pedido cheio de vergonha. A segunda colher na panela de brigadeiro que devorava sozinho aos domingos. O primeiro urso que comprei com o dinheiro da minha mesada. A primeira chateação com a minha péssima memória para dias importantes, o primeiro amor… Aquela desgraçada que só sabia me explorar. Ainda bem que acabou, e digo que acabou tarde! Filha da mãe. Nem era tão bonita assim pra ser o meu primeiro erro. E a sensação de olhar pra trás e pensar: Mas por que diabos eu me apaixonei por aquele demônio? Mulher chata, sim. Muito chata. Eu disse e agora repito: Amor é uma droga. Uma droga que mata os que não se viciam nele. Não pode ser coisa desse mundo. Não pode, não. E só pode ter vindo lá de baixo. O bom é ser livre! Guardar o prato no armário e comer na casa dos amigos. Carência é coisa de pau mandado. Foi numa das bebedeiras, escutando rock pesado, que eu conheci aquela menina da rua de cima, que mora embaixo da macieira mais linda de roubar. Papo vai, papo vem, você quer namorar comigo, moça bonita? Dessa vez é pra sempre. Não é possível que não seja. São pássaros cantando, são borboletas voando. São minhas notas de literatura atingindo o nove e o dez e os parabéns da professora que sempre me diz com um sorriso no rosto: “Mas esse menino nunca esteve tão sensível”, são meus pais chamando na hora do jantar “O que foi que deu nesse moleque pra nem tocar na comida? Isso só pode ser amor”. Vai dar casamento. Ela não fala demais, ela não me cobra presente, ela nem gosta tanto de brigadeiro assim. Ela gosta de música lenta, de saia verde e de tocar a ponta dos outros dedos com o polegar. Eu tinha nomes lindos pros nossos filhos, eu chamei parente pra ser padrinho. Aí ela disse que não dava mais certo. Que tava confusa, que ia viajar e que era nova demais. Meses depois a safada viajou pra não sei onde me trair com não sei quem. Soube que noivou com um cara marinheiro. Mulher não presta. Amor não presta. Paixão, então? Quem é que precisa de paixão? Quem é que precisa de chifre, quando não se quer mugir? Isso é bom pra eu aprender a deixar de ser besta. E como tem homem besta nesse mundo, meu Deus. Dar a vida em troca do amor de uma mulher. Tenho até pena do marinheiro, que vai casar com uma criatura mundana. Ingrata. Meus amigos logo ficaram sabendo da tragédia. Churrasco! Vamos bebemorar. Porque só presta assim. Homem esquentando a barriga numa churrasqueira, muita carne e mulher desconhecida que é pra não se apegar. Eu não vou casar nunca! Ter meu apartamento, meu carro, meu trabalho meu cachorro, e minha panela de brigadeiro. E foi no tal churrasco que eu conheci o amor da minha vida. Aquele sorriso lindo, aquele cabelo loiro solto, aquele óculos meio torto… O pessoal do escritório falou: Você não perde tempo. Só perde tempo quem não ama! Essa sim vai saber me dar valor. Viajamos pelos quatro cantos do mundo, tiramos fotos em Bangladesh, em Nova York e em Dubai. Mulher companheira, independente, dona do próprio carro. Compra os próprios cigarros. Veio de cinco relacionamentos fracassados. Achei desnecessário contar do passado… Como diria Jorge Vercilo, os amores passados tornaram-se pontes pra que eu encontrasse aquela obra fantástica dos céus no churrasco de comemoração minha separação. E ainda há quem diga que não existe destino, não é mesmo? Fomos morar junto e compramos até um cachorro, um simpático buldogue. Fomos felizes durante cinco anos, até que a coitadinha morreu num acidente de carro. O amor é mesmo uma porcaria. Eu vou dizer, rapaz: Nunca, escreva aí o nunca em letra maiúscula, eu nunca, n-u-n-c-a mais vou amar alguém de novo. Porque eu só sei amar errado. Amor é como as mulheres, amor me usa, amor me trai, amor morre. Eu não vou me apaixonar de novo. Agora é só eu, o buldogue e a panela de brigadeiro queimada. Ah, o caminhão de mudança veio trazendo a nova vizinha. Mas não é que ela é bonitinha… Ei, moça, seja bem vinda!

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