terça-feira, 7 de maio de 2013

Vários sóis e várias noites dentro de um mesmíssimo e escasso ser humano, porque eu também tenho fuso-horário. Anoiteceu aqui, mas a noite é o preço do dia para outra vida. Desconheço a minha luz, porque eu preciso ser escuridão em outro lugar. Minha geografia não é tão difícil de ser estudada, acredite em mim. Não são tantas fases, nem tantas estações, nem tantas flores assim. Eu costumo ser mais fácil do que um imprevisto. Uma chuva mal calculada e não anunciada pela moça do tempo que faz todo mundo perder a viagem. Menos eu, que também preciso ser Sol do outro lado do meu continente. Dói pisar em terras estranhas, nas suas próprias entranhas. Nunca estar onde você deveria estar, e sempre estar no lugar certo e na hora certa pra qualquer tipo de tragédia, porque não chove e nem faz sol por acaso. Não sou triste por improviso. É de Narciso que estamos falando quando a Terra gira em torno do Sol. Qual dos meus sóis estamos falando? Quando das minhas faces o meu próprio mundo gira? Pois não deveria girar. Se ainda há dúvida sobre vida em outros planetas, nem desconfiam que há menos vida no nosso do que imaginamos. Pelo menos, no meu cubículo de imensidão. Nas minhas terras, na minha chuva, na minha catástrofe natural. Enchentes naturais, secas naturais, desilusões naturais, alguém pode, se não for pedir muito, chegar na minha vida por cesariana? Ser terra, fogo e ar também cansa. E o mundo permanece girando. Nada acontece de tão grave que não possa ser esquecido em dois tempos. Mas ser o meu mundo também requer ser histórico. Pré-histórico. Eu fico ali, impregnado, arruinado, renascendo em outro lugar e queimando sozinho por dentro. Tudo esférico. Hoje sim, amanha não. Hoje aqui, amanhã em Plutão. Tudo girando em torno da minha própria vontade, vontade de querer simplesmente parar de rodar em um espaço vazio. Egoísmo de quebrar a maquinaria do relógio, fazer a vida retroceder, encolher-me no canto do planeta. Mas o planeta não tem cantos. A vida na Terra é descoberta. A vida em mim é exposta demais. Eu luto por um mundo quadrado porque só as esquinas me escondem.

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