A beleza existe em tudo - tanto no bem como no mal. Mas somente os artistas e os poetas sabem encontrá-la. - Charlie Chaplin
terça-feira, 7 de maio de 2013
Sem lirismos e situações metaforizadas, sem palavras difíceis com significados impressos em Aurélios e nunca pairados em teus ares, sem ramas de palavras oferecidas como quem compra buquê de rosas de um ambulante para presentear a chateação do esquecimento de uma data especial. É melhor assim, amar sem regurgitar a necessidade de fazer do amor uma “coisa” bonita. Qualquer coisa, por favor. Qualquer coisa, qualquer trivialidade, qualquer pano de chão para tornar-se seda. Uma coisa ou pessoa? Você. Você e seus cabelos que fizeram o negro do céu se esconder por vergonha de conter menos carvão. Menos carvão e menos fogo do que seus olhos que exalam fumaça mais inebriante que nicotina em sensualidade cinza. Você e sua pele com cheiros que nunca senti, mas sei de cor o nome das flores que faltam existir para descrevê-los. Eu quero assim, escancarado, de pernas pro ar, abandonando sacos plásticos para que a maresia da saudade consuma o que pertence ao vento. Eu quero escrever assim, esquecendo de conjugar a beleza, mandando sentidos fazerem seus poemas bonitos no inferno, matando rimas e construindo críticas. Eu quero assim, bruto feito diamante ceifado de mãos sofridas. Assim como joia cara, a lapidação do sentimento só serve para quem nunca vai usá-lo, apenas atirá-lo como isca para beijos artificiais. Eu te quero aqui, e mais do que isso, eu te quero pra mim, te quero por completa, te quero suja de terra e sem valor algum. Sem concordância verbal, sem adjetivos, sem regra de crase, sem vírgula decoradas, sem pausas ensaiadas, sem delicadeza, sem enfeites e cem por cento de você. Quero sangue ainda fluorescente, quero roupas ainda não rasgadas, quero virgindade de reticências e promiscuidade de pontos finais repetidos. Eu quero assim, exatamente assim. Quero que a nossa única mudança seja de posição quando o travesseiro marcar o molde de nossas cabeças após longas horas de insônia e sorrisos clichês, quero que nossas lágrimas se misturem ao café gelado que esquecemos de beber quando tentávamos nos manter acordado depois de algumas promessas trocados durante a madrugada, eu quero que seu nome esteja aqui quando a eternidade pretender chegar. Quero que a Lua me perdoe por nunca mais cortejá-la com metáforas previsíveis em textos milimetricamente acinzentados por um mim, um mero mistério barato, um apaixonado de moletas, um caçador sangrado. Que a Lua do nosso primeiro encontro me perdoe, mas você tornou-se minha folha de papel em branco, meu silêncio, minha rendição, minha poesia, meu amor. Meu único amor.
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