terça-feira, 7 de maio de 2013

Se o lixeiro passar hoje, espero que leia isso.



Doce Clara,


Tuas lágrimas completam aniversário hoje. Eu sei, minha querida, já fazem muitos anos. Olho pro céu outonizado e lembro do nosso amor. Não são as nuvens em forma de lembranças, tampouco são as cores e os pássaros que o decoram. É aquele avião frio e melancólico que o parte ao meio. Forte, imponente, veloz… Mas incapaz de dar marcha ré. E te deixei partir até onde fosse seguro pousar, longe do meu alcance. Meu paraquedas não abriu, Clara. Me espatifei na loucura de te abandonar.
O relógio grita cada vez mais alto. Fechar os olhos tornou-se insuportável quando nem mesmo a chama da vela acesa no meio da madrugada me permite criar poesias adormecidas. Eu sequei, dogmatizei o meu próprio título de criatura ordinária e passei a ser servo do meu próprio falecimento romântico.
Tu fostes cruel, Clara. Fostes cruel com tua beleza, teu cândido olhar, tuas botas de ferro que fui obrigado a calçar e hoje me impede de continuar a vida sem você. As memórias quase perdidas me fascinam, me enlouquecem. Ainda lembro das vezes que deitei no chão do meu quarto e pus a questionar porque as tuas lágrimas não saíam marrons, exatamente da cor dos teus olhos que se desmanchavam. Você me fez vivo para logo em seguida, matar-me com a forca que eu mesmo ajudei a amarrar.
Virei estrangeiro da minha própria descoberta. Do que adiantou-me o título de bravo, forte, dono de si, se no final das contas, morri com o título de leão ou realeza? Não bastou-me o luxo, as mordomias de amar escondido. Eu quis gritar o teu nome para desconhecidos, quis rasgar o meu coração para que tu pudesses viver entre os meus pesadelos reais.
As rosas escondidas por entre os espaços do teu nome murcharam, e as lágrimas que irrigaram todo o meu oceano secaram. Hoje sobrevivo na carcaça de um homem que encobriu teus beijos com uma barba mal feita, que maquiou os sentimentos com uma estrela no peito. Hoje penso que nada valeu a pena, embora eu saiba que sou mais feliz sem você.
Não me entenda mal, minha adorável menina. Tu me fazes falta, mas a felicidade não tem a ver com espaços vazios. Pode parecer loucura, mas que a loucura seja colocada à mesa para ser dividida entre os apaixonados ou desapaixonados. Ambos possuem o mesmo par de óculos desajustado e um buquê de rosas murchas na mão. Eu sou feliz, e serei ainda mais feliz daqui para alguns anos.
Felicidade é mentira, falta de sentido. O concreto tornou-se um peso insuportável, e optei por ser feliz. Optei por trazer os abutres para se banquetearem com as migalhas que deixei no caminho de volta para teus braços. Optei por esquecer, sem que o esquecimento tenha optado por mim. Desisti de te amar, sem que o amor desistisse de vencer.
É chegado o dia do nosso adeus definitivo. Que um dia a gente se cruze pelos caminhos tortos e curtos da eternidade, meu amor. Que um dia tu desabroche e solte teu perfume de rosa até mim, para que eu não tenha que pedir ao vento para levar minhas tristezas até você. Eu te quero sorrindo, Clara. Eu te quis mal, mas te quero sempre bem.

Até o próximo fim.

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