terça-feira, 7 de maio de 2013

Piscar os olhos doía. Perder um milésimo da tua inquietação na cadeira atrapalhava as palavras do meu diário nunca escrito. Li nos teus lábios o refrão da minha música preferida, enquanto você balançava a cabeça e tentava manter o pensamento longe. Queria que soubesse o quanto sua beleza aumenta excepcionalmente quando seus olhos não encontram onde pousar… Queria que soubesse de muita coisa, aliás. As últimas folhas do caderno sempre encontram um jeito de serem marcadas com o teu nome, que sem querer aprendi quando ouvi um qualquer sortudo te chamar. Minha loucura cria canções inteiras quando seus dedos batendo na mesa anunciam que está em profundo estado de tédio. Os gritos me apressam atrás da porta do meu banheiro desde quando comecei a pensar que os pingos d’água que caíam em minha cabeça faziam cenário para o nosso primeiro beijo na chuva. Eu queria que soubesse de tudo isso, só não queria que soubesse que eu existo. Ontem, a mesma ladainha. Eu finalmente ia falar com você. Hoje, a mesma lamentação. Sim, eu finalmente ia falar com você. Não fui. Amanhã, a mesma ilusão. Talvez você finalmente vá falar comigo. Quem sabe, não? Quem sabe você enxergue além das paredes, muros, colunas, mesas, cadeiras, distância, esquecimento e covardia que nos separa. Quem sabe você tenha tanto sentimento quanto eu, que tenho olhos que sorriem primeiro do que os lábios quando você passa por mim e deixa seu perfume na minha roupa antes que o ar roube-o de mim. Eu quero acreditar que você ouça mais do que os meus passos dados em ponta de pé, que ouça o futuro que nos chama e o destino que nos convida ante o comodismo de apaixonar-se por um ser estranho que conheço mais do que a palma da minha mão rabiscada de corações feitos com caneta esferográfica. E por que raios estou assumindo isso tudo pela primeira vez? Silêncio. Hoje você esbarrou em mim e pediu desculpas, sorrindo. Coçou a cabeça com o braço esquerdo, olhou para os meus sapatos e saiu. E eu só precisava de mais cinco minutos para fazer de você o amor da minha vida.

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