quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sobre as constantes descobertas da vida.

A gente escorre pelo cano, cai no desespero. Abre a porta e despenca um vazio com menos de dois centímetros de profundidade. A queda só fica maior quando a gente percebe que nenhum chão é duro o suficiente para fazer nosso cérebro virar uma geleia sentimental, sem pulso e sem tédio. Só dói quando pára de doer, porque aí sim, nossa carne silencia. O silêncio é um mar que não tem maré. Um mar não revolto, que não traz tempestades, mas não traz conchas, e não traz a criança em mim que brinca de escutar o infinito soprado pelo vento

E é exatamente assim que eu me sinto agora.

Sinto o peso do colchão entrando na minha revolução, no meu medo de pagar ingresso pra minha própria vida e não saber contar o final, dormir antes da cena que poderia ter sido a última, caso eu tivesse acordado e aplaudido a tragédia, sem ter motivo pra ficar na dúvida. A família do "A" inclui amor, ausência e abstinência. Eu já passei por cada uma dessas palavras e senti um gosto diferente no café da madrugada (e espero que você entenda o que café e madrugada representam pra mim). Algo mais do que açúcar ou adoçante. Algo que parecia a vida querendo sair do meu peito, mas nada que me provasse que o meu coração na verdade não seria uma enorme câimbra, pondo em vista que eu nunca gostei de potássio, fruta, eternidade, esse tipo de coisa que o fortalece. Pois bem. Se a vida é uma fuga, meu bem, amor é uma despedida inaudível, ausência é uma escapada pelas janelas, que eu ainda não sei bem onde fica, seguida por uma longa deficiência nas pernas e a abstinência é um arrombo no peito.

Um arrombo no peito que faz a vida fugir lenta e cruelmente, porque o desespero ficou lá nas pontas dos pés, quando o amor rouba tudo o mais depressa possível e deixa uma casca-zumbi para que o café amargo da madrugada passe direto, atravesse a alma e respingue no colchão que entrou na revolução da minha existência silenciosa e acomodada.

É exatamente assim que eu me senti a vida inteira.

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