terça-feira, 7 de maio de 2013

O ácido e as pessoas em excesso me fazem ter ânsia de vômito. Olhos perdidos e multidões cansadas, cadáveres muito bem perfumados e aprumados. Ela tem cabelos derretidos e boca pintada. Ele tem cultura de televisão e amor de prostituta. Odeio a juventude, as gargalhadas, o cheiro de álcool escondido na bolsa e o hálito de cigarro barato. Talvez as minhas veias apodreceram antes de mim. A felicidade e a longevidade dos poucos anos abandonaram-me e hoje me deixo levar pelo nojo que sinto da idade que afirma a certidão de nascimento. Morri cedo de desgosto em um asilo qualquer. Vírginia dá gritos de gralha pela maldita unha quebrada, Ricardo combina a próxima festa e planeja pegar dinheiro do pai enquanto o velho médico pensa que investe no futuro do filho medíocre. Envelheço mais dez anos e Virgínia está na mesa do bar, queixando-se do trabalho miserável para o garçom galã expulso de casa ao ser descoberto pegando as joias da família para comprar drogas, como se a própria vida já não entorpecesse suficientemente o mal caráter de Ricardo. A consciência grita em rugas desprezadas, a adolescência repugnante que bate em pontas de faca. A ditadura do rímel e do tênis de marca. Até os verbos irritam-me. Anime-se, dance, ame, beije, compre, fale, divirta-se. E quando os sorrisos forçados lhes são negados, a melancolia de esquina roubam-lhe os pulsos ensanguentados com tinta. Ninguém os ama, o dinheiro não é suficiente, a namorada não é a mais bonita e a popularidade afundou. Futilidade decadente e previsível. E fico aqui pensando, matutando… Nem para serem tristes os malditos vermes maquiados servem. Estavam todos certos. Sou estranho, monótono e desprezível. E as palavras também cansaram de minha velhice precoce. Esta porcaria não era para ser comovente ou revolucionária, pois os olhos que me leem também estão borrados e turvos, assim como os meus. É apenas o futuro que acontece em todos os presentes de um passado que ninguém soube que aconteceu. Esse texto ainda não foi escrito, pois não há ponto final. Perdão, eu peço perdão. Eu apenas perdi a borracha.

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