terça-feira, 7 de maio de 2013

Nasci nas pradarias, num lamento profundo, onde até o céu chorou. Cresci no verde, criei-me no cinza. Meu choro trouxe alegria, trouxe saudade, trouxe dor. Meu choro trouxe ao mundo uma cruz diferente ficada ao chão, uma cruz sem lágrimas, um sorriso de luto e um estômago lotado de pão e de vasos sem hemácias. Nasci leão, mas leão manso se corta os dentes, se corta o rabo, se corta a juba e se corta a coragem. Minhas garras são outras e, para pensar nelas, admito a paz armada. Nasci em agosto, nasci leão sem realeza, e a minha selva é uma febre eterna de tristeza, onde os ramos crescem e a luz que é desmatada, onde as pétalas é que machucam uma carne masoquista. Nasci em agosto, filho das pradarias, nasci quando o céu murmurou, fruto de um capricho rápido das estrelas cadentes de uma poesia decadente. Nasci leão, mas criei-me virgem para o céu azul, criei-me virgem para o amor. E a virgindade eu só perdi nesses penhascos de utopia, onde não há perdição maior do que a pureza de um coração em chamas, intocável. Meu choro, que veio ao mundo despido, apresenta-se ao próprio mundo numa vergonha profunda. Cresci feito criança de circo, malabarizando as frustrações e andando pela corda-bamba com mais de um coração de largura, pois vasto é o meu universo, e pequeno sempre foi o meu passo. Nasci na dependência de metáfora, pois a nicotina eram os sonhos que jamais tive coragem de sonhar. Nasci leão, perdi a juba. Nasci virgem, perdi o encanto. Nasci câncer, nasci já sem cura, desenganado. Nasci peixes e montei meu próprio aquário onde morri afogado, vítima de um pulmão suicida. Nasci sem saber respirar, cresci na esperança de prender o ar, pois o oxigênio foi o que me impediu de caminhar. O conformismo, essa banalidade da existência, onde se pode sofrer e desejar morrer, onde a sufocação pode vir, pode cegar, pode matar centenas de vezes, mas oxigênio é uma coisa encontrada em todo maldito lugar. Eu nasci quando o céu chorou e, hoje, nascido e crescido na poesia, o choro é só chuva e a vida, que me batizou como vivo, sem vivo eu estar, a vida é só uma virgindade esquecida, velha, caquética, que ninguém gosta de perder. Mas a vida é só uma viagem perdida.

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